sábado, 13 de fevereiro de 2010

HAIKU DE MATSUO BASHÔ

*
*
Imagem
via blog dialogos-impertinentes
Ah este caminho
que já ninguém percorre
a não ser o crepúsculo
*
in O GOSTO SOLITÁRIO DO ORVALHO
tradução/antologia de
Jorge de Souza Braga
poema via Blogal.blogspot.com
¨"¨"¨

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A F L U Ê N C I A

*
Imagem:
Alice vs. Lolita, de Oleg Kulik







*



I
Y SE ME ANIDA EN EL ESTÓMAGO
SE INCIERRA Y GRITA
HASTA DOLERME
HASTA LLEGAR A LA GARGANTA
..................................
trecho do poema
"Sombras Interiores",
de Miraceti Jiménez



AFLUÊNCIA



Move-se
a roda em
um giro - óbvio -
à um lance da sorte,
da qual, nem há provas; daí,
na duração do que fora dúvida
se, expô-lo, deveria
por ventura,
tudo
ingurgita-se,
entrava, estoura,
por inteiro
se descontinua e,
de inopino,
vira o remo,
faz a mira,
corta a rotina e
traça a curva,
leva o barco
para cima
e para fora. Aquilo
que, até antes,
acoçara,
a que se lho desencaste, urge,
se o conduza para o pojo,
a um destino necessário.

Do cais, o que, destorcido,
necrosando,
conservara-se,
bem feito, é um endereço
a enviá-lo.

Desamarfanhado
e, por conseguinte,
alinhado em reta,
parte, põe-se à campo,
avança, vai à praça,
afirma, enfrenta,
topa o tranco,
apanha, dá o troco,
resiste, sustenta,
banca o jogo,
rompe o cerco, mede força,
escora, aguenta fogo;
lava as chagas,
enterra os mortos.


Ao ar livre, a seu lugar,
aí, um sol retorna.



Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba, 2008








*

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

RECITATIVO PARA CORDAS, MARTELO E VOZ METÁLICA - II

*

"Mikain my little angel"
de Olegito
no olegito.artician.com

*

RECITATIVO
PARA CORDAS,
MARTELO E VOZ METÁLICA
para que contrariem, as cordas, a voz que as martela




II
Impertubavelmente
e de maneira
a mais refinada,
saboreie um buquê de alcachofras,
a mel e gengibre, o caldo; ao prová-lo
com requintes de modos
e gosto,
embora pareça anacrônico,
agracia-se um momento, a fim de
que não se o perca
ao descartável.
Guarde, da semana, um destes,
para que lhe recorde: comentários,
indicações de condimentos,
casos, estórias e sucessos,
e a pausa amena
em que um papo,
fingindo ser frívolo, fez,
das afinidades, um início do laço.

Ato primordial,
a boca experenciando o mundo.
Comensais compartilham
a conversa e a comida; o gesto
os sela vizinhos, a língua, companheiros.
São os que constroem memórias,
concordâncias que fundam clãs
que fundam tribos,
e tem como trocar, por fala,
o fuzil e o tacape
no trato dos conflitos.
Civilizam-se, confraternizando.

Preserve-se,
decline do sair a jantar com auto-centrado;
além mais de sentir-se sozinha, há risco
de trazer-lhe à casa, a dispepsia.
Inclua:
cantar, jamais, em coral de mestre do medo,
o repúdio à compra de escravos,
pois que os rituais de subjugação
lhe remetem, antes
de quem desapropriado de pessoa,
ao embrutecimento; quanto a si mesmo,
nunca se ponha à venda.

Conserve compensados,
soma e psiqué. Conceda-se:
arrede o tédio,
a nódoa, por gotejo de suborno,
a vista do panorama forjado,
e, sobretudo nestas circunstâncias,
evite a engorda por glutonaria.
O prato,
peça-o ao restaurante
sob o museu das artes vanguardistas. Estas,
as prestigie.

Do imaturo mendaz e do insolente,
das insignificâncias, desvie-se;
poupe-se, como à preciosidade,
sem pejo,
e lhes recuse, até único, um aplauso.
O silêncio, recuse-o
ao trunculento e ao soberbo tirano.
Afirme o necessário:
se o pronunciar à um ouvido distante,
olho à olho. o confirme.
Mantenha sua palavra,
documente-se, e toque o processo.

Peleje a boa peleja
caso lhe peça, a vida; proteja-a.
Você não é autófaga,
não independe do entorno,
contudo,
ao escolher nome e ação
ante as carências institivas,
o sim e o não
às gentes próximas ou estranhas,
bem como
ao estender meço e modelo às
atrações elequentes
e proibir, por princípio,
que lhe submeta
esta inata falta de suficiência,
capacita-se a governança sua.
Uma prioridade, ganhar a condução
dos passo,
curso e cabeça,
sem o que não se comandará a nave,
tão pouco as vagas que se conta a cerca.


Erga-se; quando
começarem os gritos, resista.
"Sábia é, a via do meio",
nos legaram no adágio,
e sábia
é a que forja os seus próprios meios.
Não se esconda dentro das capas
de cores neutras, e menos ainda,
vista uma camisa de vítima;
não se encolha, diminuída, por que
Deus não é preconceituoso,
não recue nem desista
por seu pouco tamanho,
não receie, reuna-se;

se há bicho monstruoso,
para este, não há quem
lhe vote a benaventurança:
solitário, expõe-se vulnerável,
o mal dentro do lobo.
À contramão, os remadores em uníssino
confrontam-no. Associe-se.
Dispense, por coerência,
uma divertida caçada à raposa,
qual também, a rendosa pescaria do menor,
do muito frágil;
com ardor, não creia nas utilidades
indispensáveis
de uma varinha mágica,
nem do porte de arma ou
apronto de tocaia.

Fogo, vence-o melhor, a água;
use-a, reaja por vias contrárias,
do dia em que começa às vésperas;
na última hora,
em extrema instância, tentados
os outros todos, tome o recurso da força,
às claras,
sem culpa.
Fundamental, mantenha a convicção,
e basta.

Pós-mesa, frutas e doces
servidos,
critique, em havendo falhas,
o recente artigo de fundo,
a cosinha ou a
idéia pessoal de eco-agro-negócio.
Seja motivo:
quer deixou-se, a empáfia,
deslizar aos excessos,
quer a textura do café com menta
pareçeu-lhe um tanto insatisfatória,
ou se pecou, o seu plano,
por certa escassez de substância.
Faça-o, mas sem que mofe ou desdenhe;
máscara risonha, vestir
n'outrém, o ridículo, é disfarçe
d'uma agressão que não se assina.
Ao labor alheio,
não consinta lhe negar o respeito,
veja com parâmetro igual,
com igual peso avalie,
o seu e
o dele.
Chama-se justo equilíbrio isto
que a mantém elegante.


Por múltiplas variáveis,
das quais, acima,
apenas explicitam-se
algumas,
vigorosamente se recomenda que
segure o volante e
o temor latente, não esterçe
ou pise no freio, siga em frente,
sem que se apresse
e nada veja,
sem que esmoreça;
nunca lhes ceda, aos piratas,
a mão, com a qual traça a reta.

Uma vez mais, ultrapassado isto,
dê-se sequência:
plante àrvores,
o livro, afinal escreva-o,
cuide do filho.
Assim em síntese,
o oriente nos aponta
uma das formas de se constituir
humano.
Persista. Ao pensar
e decidir,
pratique, empenhadamente.



*

Santana de Parnaíba, 2009
Ney Maria Menezes

*

Painel
com trabalhos de:
1- Jon Haddock, no whitelead.com
2-Erick Kellerman, no erickkellerman.com
3-Francis Bacon, no artdaily.org
4-G. de Chirico, no artdaily.org
para uso não-comercial

























RECITATIVO PARA CORDAS, MARTELO E VOZ METÁLICA - I


*
da coleção
Peaple of the labirinth
de Erwin Olaf
via nãotenhovidaparaisto.blogspot.com



*
Recitativo para cordas,
martelo
e voz metálica




* SÉRIE
Assombros
da crueldade sem sutileza


* EPÍGRAFE
"...eu quero ter a sensação
das cordilheiras
desabando sobre as flores,
pequeninas e rasteiras..."
Trecho da canção
"Cordilheira", composição
de Paulo C. Pinheiro e Sueli Costa,
do repertório da cantora Simone





I
Azulinas, as campânulas
agarradinhas a seus galhos
procumbentes, lhes oferecem,
entre as pétalas, uma casa
aos insetos, às aves,
um prato cheio;
absolutamente sem custas.


Quando - a procura de caça -
levantam vôo,
os grandes pássaros,
felinos devoram suas crias,
servidas quentes
em ninhos caprichados,
dispostos pelas ramas
olorosas das laranjeiras;
nutrição - repasto à comensal - é
também ordem de passagem pelo tempo.
Escondem-se, no escuro,
as aranhas, à espera, e
fora, salta o olho maior que o estômago;
há estracinhados e
muares no furor de um embate,
como ontem,
hoje e
amanhã, e amanhãs,
novamente...

...se reproduzirá outra disputa, se por
mando de grupo,
vaidade,
se ouro ou vontade de pisar
indefesos porque, com eles,
se pode;
Infecta, o mijo do rato,
o riacho, a sarjeta,
um bueiro
onde dormem meninos
paridos milagrosamente
pelo ventre d'uma calçada,
d'um pai sem endereço; crescem
vilas, distritos, cidades diversas,
por cima das juçaras,
jatobás e roças de milho,
por cima das mandiocas
plantadas
por mulheres da tribo extinta.


Se repetem, outra jornada,
mais um crepúsculo.
Suas clarezas, pousam, as garças,
em tonalidades profundas
de entrançados troncos
com os pés n'água.
Vagarosamente de volta à infância,
a chama rútila,
desalumbrando o horizonte, pousa
dourado, à ocidente;
há, mesmo agora,
da classe dos mamíferos,
algumas aleitando
o filhote, enquanto
nina a tarde expirante,
a noite, prestes, em domínio...
...ladram, cães, aos cavalos
pelos altos do monte;
elegantes, sequer erguem os olhos,
e pastam, ignorando-os.


A vida
acorda brutal e bela,
desprovida de preferências,
e transita, a cada dia,
absolutamente sem dó.
Como, ela, lha sabem,
os séculos.

*


Santana de Parnaíba, 2009
Ney Maria Menezes

*
Painel
com a foto da menina Kim Phuc por H.C.Nick Ut
e do Body painting festival de 2007 por
Joachim Bergauer


*












R

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

da Série PAISAGEM SENTIMENTAL * PAISAGEM AO PÉ DA JANELA


*
Colagem
sobreposição de fotos da web
para uso não comercial
- direitos pertencem aos autores dos originais -







I - Paisagem ao Pé da Janela




Neste aberto
por cima das terras
abaixo e,
daqui, ao largo e também
logo adiante,
este intervalo a
fazer-se uma estampa,
nele
aparecem, nos quintais,
bicicletas,
rosas e roupas,
arvoretas
e amplas copas
interrompendo a
torre, dali, mais atrás,
o desfile das paredes
cobertas de tintas
e tonalidades tristes,
tristes ante à nova luz,
nova de quase um quarto
do giro diurno e
jovial, mesmo suave,
pode jogar sombras
contrastantes
nas gastas calçadas,
salpicar melancolia nos muros
desbotados;

estão postos na gravura
a fazer-se de janela,
os telheiros recortados
pelos galhos,
o arruado subindo e
descendo a colina,
os carros movendo-se
na avenida que se finda
sob o ocaso.
Segundo o ponto de fuga
da perspectiva,
tomam um lugar
ao fundo e também
junto ao vago no meio da
veneziana destravada,
emolduram-se
entre o cortinado: no
vestido de domingo, azul
e ouro,
o dia, voltando ao refazer do começo,
a música do campanário e
a do passario,
a passagem do vento e
dos pais, pelas mãos
de suas crianças,
um milheiro de moradias; o
tempo
derribando suas pétalas, uma
a uma,
a contar do vencimento
de suas horas,
uma após
uma...



*


NeyMariaMenezes
São Paulo - Jardim Bonfiglioli
2007


¨^¨
Colagem
com imagens da www.
Os direitos são dos autores
dos originais;uso exclusivamente pessoal.
~*~










terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

VINHOS E DEUSES

*
Painel com imagens da web
citações a fotos de Olegito, Evgen Bavcar, pip8.jpg
no sítio soulbehavior.com;
uso não-comercial - os direitos são dos autores dos
originais.








OS DEUSES,
se inclinam-se ao desejo
de obstar,
à um vivo, uma viagem
ao trágico,
alguns deles protegem,
o trôpego
mortal, do angor dos naufragos,
da luz
que o impede ser um cego
e o pode
trazer à frente do
esgar
de um medo atroz ao espelho
que o rosto
próprio, pétrio, devolve;
então,
se ante ao olho no frio vidro,
desnudo,
o chão abre e corre o risco
de ir-se,
a caminho do insano,
condoídos,
da visage, o escondem.
Miséria
e loucura, das duas
o afastam,
deste extremo pathos,
o livram
ao embebedare-no
com velhos
vinhos e com delírios
daquele
que ora se goza moço.

*



nEY mARIA mENEZES
Santana de Parnaíba - 2007