sábado, 16 de julho de 2011

Da arte de levar em conta

                                                        Largo do Arouche, originally uploaded by Felipe Gobor.




*


Mexe-se, simétrica e florida

em meio ao cinza
do concreto e do céu amanhecido,
a praça cortada
por rotas da rosa-dos-ventos,
piados de pardais
e os passos da pressa;
à caminho,
rumo a mais outro dia do contrato.
Ao apelo da multicor
abrigada nas barracas cheias de plantas
um olhar
vira à esquerda...
...no instante mesmo em que o alcança
a gentileza do gesto:
atravessavam a praça o cumprimento
e a oferta do ramo!
A marcha estanca, o riso
soa algo bobo, algo gago
o obrigada.
Vermelhas, a face
qual a flor.
*
1ª versão: São Paulo/2006
revisão: Santana de Parnaíba/2011
NeyMaria Menezes




















sexta-feira, 15 de julho de 2011

NOTURNO PARA OS BATmem

Foto de divulgação


*

NOTURNO
PARA OS BATmem
 
 
 
A magnitude da sozinhez,
dela, a exata dimensão,
precisos são perto de uns vinte anos
para se a perceber como uma
e a mesma da multidão,
daí se dar por achado um fato: que o susto
disto advindo pode ser maior que a medida
 tomada pelo ajunto de gente.
 
Descobrir-se em choque,
não, porém, porquê
se é o primeiro nativo a ver-se
a dois passos do estrangeiro
coberto de pelos cobertos de pano,
não, agora - para algum assombrado moço - agora
 pára somente de ser-lhe obscura
a intransitiva singularidade de outrem.
 
Depois pára, ao modo daquele modo já visto ontem
-  sendo ontem qualquer um dos que foram vistos -
para mais algum, mais algum de novo...constante;
tão constante ressoa o anúncio: 
 só, intraduzível...de um e muitos se julgando,
 portanto, desdo suposto início.
 E, d'assim ser, apesar, o espanto
costuma consumir horas. 
                                
As horas consomem décadas,
as da espera pela acomodação natural;
sim, regressa ao leito o lago feito chuva,
engrossa a cambuquira e,
o peso, o triplica o bezerro,
e então, naturalmente, se tornam talo e touro.
As afinidades
nem tanto dependem da atmosféra.
 
A incomodação tão pouco
desponta por geração espontânea;
donde grita, lá,
a mecânica dos corpos a esmo pelo espaço
gera um atrito áspero, ruidoso, e
que dispensa a anuência individual; deste àquele, 
deslocando-se pelo escuro, danificam e, ansiosos,
ferem-se eles ao impulso do calor que os atrai.
 
A esfoliação inflama a pele
que expõe a carne, ess
que escarmenta os nervos
os quais, um a um, oprimem os ossos,
 entrementes a alma em tais feitos se amola;
apenas mariposas rendidas a quem chama 
       até que lhas coma o chão.         
Sob desgaste e tepidez, por aí, se forjam
o enfado, o nojo, o prazer, do que
ficam eles quase sem se dar conta; contudo,
por causa e porque a vinda do bem e mal, 
há de lhos cobrar um tormentoso sono.
fascinados, resulta-lhes do esgaravatarem-se,
 sempre, o lodo subir à tona, de vez em vez,
algo de valor. Às línguas,
sabe a visgo e volúpia o que são.
 
E a milhões
secede serem o que,
da canalha à santidade,
lhes enformaram as diferentes sínteses
de repulsa e sedução;
e sucede
a um, e também a outros,
sentirem que a eles lhes tocou serem,
 dentre as distintas conjunções,
a gozosarepugnância,
a patética idiossincrasia
do fora de esquadro,
o contradito, o melancólico, o deplorável,
o mau e manso marginal...
 
Periferia a se inaugurar, malvisto ou
endemoniado a entrar a ser, avesso a se pôr em pé,
muito embora nenhum havendo
 a partir da amanhã seguinte ao big bang
  e ao banimento de Caim,
carece algo perto de vinte de idade
 para que um e vários se reconheçam
 gosmentodeleite, disto, nada além.
 
Debaixo do olvidio por baixo do indecifrado, aos sem par
 o que se lhes escapa é o monte de momentos, em quais,
nem régua em suas mãos havia, nem búsula ou balança,
 e comiam e obedeciam e tinham escassos os vocábulos,
ao ponto de sequer poderem descrever um encanto
ou a última aflição; disto e em qual data
 não se lembram, e do presente, os casos,
aos vinte de idade, não tem fim os que não os enunciam.
 
 
Seguem-se
prantos e perguntas, a si iguais
- desde antes, iguais -
como se não andasse o tempo.
 Fronte aos que, vivos, as ordenações emparedam 
em nichos hierárquicos, e testemunha de que,
desformes, estão os caídos a golpes de dias passados,
ele, o tempo, ele se petrifica.
 
Par a par com o deserto,
 aos perdidos persiste a nuvem de dúvidas,
 porquanto de nenhures as palavras lhes sobrevém.
Ante ao fora de alcance, o inominável,
 aos para ques, lhes falta abrangência,
e permanecem, os porquês, meras conjeturas,
mesmo que o hoje - tantos hojes - se o prove
em meio a sombra e sequidão.
 
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<-°°->

Santana de Parnaíba
julho de 2011
NeyMaria Menezes




domingo, 10 de julho de 2011

PLENO VAZIO; círculo

*
Imagem: RED, de Ryohei Hase, no 
www.SurrealismToday.com
*


PLENO VAZIO;
círculo.


*

No ermo,
no vazio do lugar,
a ela digo:
aí, nisso podem nascer
as sementes,
dessas, virão as flores.
Sob o sol,
nada de novo,
óbvio tudo, mas
eu digo para a presença
da desesperança.
Relembramo-nos
do invisível.
E isto é dádiva
ao se relancear os olhos e
 pressentir a rosa
num solo recém roçado;
é castigo
ao enraizar-se os olhos
em velha nudez de superfície
consumida.
De novonada
sob o sol,
nem mesmo isso.
*
Santana de
Parnaíba
10 de julho 2011
NeyMaria Menezes