quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

DESFILE DE FANTASIAS

Imagem: obra publicada na 5ª edição
de Literatura e Artes Ciberartes.com






"Todo empieza a morir cuando nace el olvido"


Jose Angel Buesa

fragmento de poema










Pode ser,

num desses repentes,

que se esbarre com o fosso,

o vazio que ficou ali,

onde algo foi roído

- o algo,

o que o qualifique, além disto, já não se acha -

e pode até que

o diâmetro de uma tal erosão se declare

a medida entre os pontos da área submersa

pelo esquecimento; ou isto,

ou,

em um parecer distante das certezas,

o que seria a transversal da falha,

seria o acusativo, o

sintoma da nenhuma estadia

das horas que antecederam

o instante do agora mesmo.




Se sucedidas, aquelas, de qual modo

se não as divisaria...se,

de algum jeito, se as levasse

a perderem-se no subterrâneo

antes que consubstanciassem,

se, modestas,

feito escorressem ao sorvedouro,

perceptíveis, não se fizessem ...e daí,

um processo,

se dando nestes parâmetros,

desceria ao fim do fundo,

bem alá do descorar dos olvidados...



A mando dos ditos modos

de acontecer, todo e qualquer que, seus rastos

pelo palco,

nunca os registrariam, ainda se

fragmentos, pedaços

de estórias, pontuais destaques

de um enredo

e, por que não, a

meia saudade disto

que se jamais foi...juntados,

todo e qualquer, sob

forma de um mundo rico em

casos e itens,

fugiria do pousar para

retrato. E, inclusive,

considera-se que faltaria,

a este vário mundo, a sombra sua, a

contra sol.



Fugazes, ao menos...nem

isto, mas

fabulosas épocas,

qual quiméricas figuras

e, quiça,

um tipo de crendice ou

alucinações,

como também, um

invento, quem sabe, uma

fuga onírica;

fantasia, seriam

nada

além de ficção.
Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba






















DA SÉRIE "SOMBRAS" * II Canto






A sombra de um engano

há um desejo tolo que

consente.





II. Do Início Do Sem Fim





A guerra, seu início,

pulsa

na saliva sob a língua.


***


O desejo espuma,

a garganta estrunge,

esbugalha-se, o olho, e gruda

- o cérebro, feito o réptil, reage -

eleva-se, a pressão sanguínea,

o nervo estica-se e empurra

a mão, a mão esmurra,

escalavra,

estoura o crâneo. De pronto,

sentir-se-á senhora.

Irá agarra-lo - é seu -

e o prenderá ao cume

da vanglória.

O furor que, nele,

os iguala,

ele os reune.

dono e propriedade.

Em coletivo,

cada qual ,

se transmuda

e avançará, uma divisão,

em formação de batalha.

As custas, um corpo paga.


***


Danos e

perdas, arca,

vida por

vida, o

quanto sejam.





Ney Maria Menezes

Santana de Parnaíba






















APÓS O ÚLTIMO DIA

imagem: "Carmine" de Natalia Shau




À sombra de um engano

há um desejo tolo que

consente




I. Após o último dia



E caso qualquer coisa
amostre dar no mesmo
o tanto que importa e
quanto, anódina, a nada
serve, será isto
anúncio
de haver-se posto em moção
a discrepância
de não dar mais,
sombra e sol, e sequer
o sete-estrelo, o arco celeste,
amostra, nenhum destes,
de ser diferenciável pelas
necessidades da paisagem hirta.
Cegas e secas
estátuas,
parecem
aléia e capoeira,
o ribeiro e
o bosque
- ermos desditosos, decaídos -
se perdendo, pois desamantes,
posto desafetos, e junto
e tal
a estes, invalidados,
se perdem,
justo naquela hora,
o impulso,
o passo decisivo,
a rota do tesouro.
Isto virá,
sendo suficiente acender
o dia
- só um dia -
após
ver-se esvaziada
a vontade, velha quão a serpe,
de chegar até ao céu...
Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba










SUÍTE "CANTIGAS PARA FLAUTA DOCE E ASAS DE BORBOLETAS

Imagem do Twidesign.net









I.

Sobre pisos e bancas de quinquilharias

murcham as luzes, minguam

as tintas da cidade.

A tarde, a invadem, noite e umidade,

tremulante, uma e a outra.

À esquina

risadas e crianças cruzam ares e asfalto.


Asas de borboleta

- nos lábios -

gaias, multimatizadas, são os

sorrisos, tênue maravilha

sobre o cinza do mundo...


***




II.

Em vôo, frente ao muro pardo

contra o céu nublado.

Alva, dá alma ao fundo turvo.


***





Ney Maria Menezes

Santana de Parnaíba








terça-feira, 29 de dezembro de 2009

PREFÁCIO A UMA AGENDA DE MENINA

Para
Veridiana
Colha minha menina,
colha, com mãos em concha,
as brancas possibilidades
que afloraram agora pouco.
Porquanto há folhinhas,
cor de ouro ou terracota
se no auge, o outono, e são elas
viageiras ondulantes
e são aves, quando verdes e,
o verão, o ameniza
o assopro que, na pele, sentem
se arrepiando, daí seguem,
em um vôo temerário,
a viração que lhes faz cócegas
a tarde inteira,
elas, um' a uma,
as chame pelo nome.
Corra também por seus itinerários,
assobie e lhes conte histórias
de encanto
para que, elas, afinal pousando,
se entreguem ao sólido sobre as covas
dos havidos qual rebentos, e então,
os protejam, os alimentem.
Assim, os plante.
A cada vez
do solstício de inverno,
conserve, com seriedade, as reais
sementinhas, catalogadas.
Ao sonido dos ares
de primavera,
considere as eclosões adventícias
do acaso
extraordinário
inesperado.
Ney Maria Menezes
21 de fevereiro de 2008
Santana de Parnaíba