terça-feira, 17 de abril de 2012

PARA A ESCRITURA

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Imagem: via página de Verónica Angélica no facebook



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A ferida,
várias vezes
em que esfole e se perfure
são precisas
a que se escancare,
se abra sem remédio,
e vase e escavaque
a memória,
posto que, à mostra
sob o sol
sem ter parte
com descanso,
aumenta o peso ao pescoço
e, intermitente,
chora o sangue
que escritura a sua história,
enquanto não vem
a noite que encobre
pensamentos
e contornos.

Sendo nada além
que algumas gotas a mais
em meio ao escuro,
se diluem
entre fontes,
pequenas cascatas
e outras
excreções do cotidiano;
só então rumam para o rio,
para o esgoto,
 para o fundo, como tudo
que desce mais denso
que as vagas do oceano.

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Santana de Parnaíba
17 de abril 2012
                                                                   NeyMaria Menezes

segunda-feira, 16 de abril de 2012

E PODE SER MAIS RUIDOSA A SOLITUDE

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Imagem: de Weiss Wojciech

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E PODE SER
MAIS RUIDOSA A SOLITUDE


É verdade, houve
 uma vez
e houve a última;
nelas
embaçou-se o olhar
com a lágrima
de um romance que
- já os excessos
     expirados  -
 na ordem do que ocorre,
mais outra manhã
e não acordaria.
 Limpo, nunca mais
molhou-se o olho
só por si
mesmo. Não podia.
Deu-se que, agora
seco, a dor via
e via como
ela
tantos donos tinha,
como dela,
golfando ou
engolindo,
tantos, revoltados
ou abatidos,
que se contorciam;
aí, ao choque,
no silêncio
 estancou-se o choro,
calou-se o ai. Contidos,
 dos dois tirou-lhes
 a mão, fria
 até então, o  tempo
e o lugar.
 Sem o menor ruído,
calor e
calos
a cobriram.

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Santana de Parnaíba
16 de abril 2012
NeyMaria Menezes