quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

RECITATIVO PARA CORDAS, MARTELO E VOZ METÁLICA - II

*

"Mikain my little angel"
de Olegito
no olegito.artician.com

*

RECITATIVO
PARA CORDAS,
MARTELO E VOZ METÁLICA
para que contrariem, as cordas, a voz que as martela




II
Impertubavelmente
e de maneira
a mais refinada,
saboreie um buquê de alcachofras,
a mel e gengibre, o caldo; ao prová-lo
com requintes de modos
e gosto,
embora pareça anacrônico,
agracia-se um momento, a fim de
que não se o perca
ao descartável.
Guarde, da semana, um destes,
para que lhe recorde: comentários,
indicações de condimentos,
casos, estórias e sucessos,
e a pausa amena
em que um papo,
fingindo ser frívolo, fez,
das afinidades, um início do laço.

Ato primordial,
a boca experenciando o mundo.
Comensais compartilham
a conversa e a comida; o gesto
os sela vizinhos, a língua, companheiros.
São os que constroem memórias,
concordâncias que fundam clãs
que fundam tribos,
e tem como trocar, por fala,
o fuzil e o tacape
no trato dos conflitos.
Civilizam-se, confraternizando.

Preserve-se,
decline do sair a jantar com auto-centrado;
além mais de sentir-se sozinha, há risco
de trazer-lhe à casa, a dispepsia.
Inclua:
cantar, jamais, em coral de mestre do medo,
o repúdio à compra de escravos,
pois que os rituais de subjugação
lhe remetem, antes
de quem desapropriado de pessoa,
ao embrutecimento; quanto a si mesmo,
nunca se ponha à venda.

Conserve compensados,
soma e psiqué. Conceda-se:
arrede o tédio,
a nódoa, por gotejo de suborno,
a vista do panorama forjado,
e, sobretudo nestas circunstâncias,
evite a engorda por glutonaria.
O prato,
peça-o ao restaurante
sob o museu das artes vanguardistas. Estas,
as prestigie.

Do imaturo mendaz e do insolente,
das insignificâncias, desvie-se;
poupe-se, como à preciosidade,
sem pejo,
e lhes recuse, até único, um aplauso.
O silêncio, recuse-o
ao trunculento e ao soberbo tirano.
Afirme o necessário:
se o pronunciar à um ouvido distante,
olho à olho. o confirme.
Mantenha sua palavra,
documente-se, e toque o processo.

Peleje a boa peleja
caso lhe peça, a vida; proteja-a.
Você não é autófaga,
não independe do entorno,
contudo,
ao escolher nome e ação
ante as carências institivas,
o sim e o não
às gentes próximas ou estranhas,
bem como
ao estender meço e modelo às
atrações elequentes
e proibir, por princípio,
que lhe submeta
esta inata falta de suficiência,
capacita-se a governança sua.
Uma prioridade, ganhar a condução
dos passo,
curso e cabeça,
sem o que não se comandará a nave,
tão pouco as vagas que se conta a cerca.


Erga-se; quando
começarem os gritos, resista.
"Sábia é, a via do meio",
nos legaram no adágio,
e sábia
é a que forja os seus próprios meios.
Não se esconda dentro das capas
de cores neutras, e menos ainda,
vista uma camisa de vítima;
não se encolha, diminuída, por que
Deus não é preconceituoso,
não recue nem desista
por seu pouco tamanho,
não receie, reuna-se;

se há bicho monstruoso,
para este, não há quem
lhe vote a benaventurança:
solitário, expõe-se vulnerável,
o mal dentro do lobo.
À contramão, os remadores em uníssino
confrontam-no. Associe-se.
Dispense, por coerência,
uma divertida caçada à raposa,
qual também, a rendosa pescaria do menor,
do muito frágil;
com ardor, não creia nas utilidades
indispensáveis
de uma varinha mágica,
nem do porte de arma ou
apronto de tocaia.

Fogo, vence-o melhor, a água;
use-a, reaja por vias contrárias,
do dia em que começa às vésperas;
na última hora,
em extrema instância, tentados
os outros todos, tome o recurso da força,
às claras,
sem culpa.
Fundamental, mantenha a convicção,
e basta.

Pós-mesa, frutas e doces
servidos,
critique, em havendo falhas,
o recente artigo de fundo,
a cosinha ou a
idéia pessoal de eco-agro-negócio.
Seja motivo:
quer deixou-se, a empáfia,
deslizar aos excessos,
quer a textura do café com menta
pareçeu-lhe um tanto insatisfatória,
ou se pecou, o seu plano,
por certa escassez de substância.
Faça-o, mas sem que mofe ou desdenhe;
máscara risonha, vestir
n'outrém, o ridículo, é disfarçe
d'uma agressão que não se assina.
Ao labor alheio,
não consinta lhe negar o respeito,
veja com parâmetro igual,
com igual peso avalie,
o seu e
o dele.
Chama-se justo equilíbrio isto
que a mantém elegante.


Por múltiplas variáveis,
das quais, acima,
apenas explicitam-se
algumas,
vigorosamente se recomenda que
segure o volante e
o temor latente, não esterçe
ou pise no freio, siga em frente,
sem que se apresse
e nada veja,
sem que esmoreça;
nunca lhes ceda, aos piratas,
a mão, com a qual traça a reta.

Uma vez mais, ultrapassado isto,
dê-se sequência:
plante àrvores,
o livro, afinal escreva-o,
cuide do filho.
Assim em síntese,
o oriente nos aponta
uma das formas de se constituir
humano.
Persista. Ao pensar
e decidir,
pratique, empenhadamente.



*

Santana de Parnaíba, 2009
Ney Maria Menezes

*

Painel
com trabalhos de:
1- Jon Haddock, no whitelead.com
2-Erick Kellerman, no erickkellerman.com
3-Francis Bacon, no artdaily.org
4-G. de Chirico, no artdaily.org
para uso não-comercial

























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