sábado, 30 de janeiro de 2010

REGRESSANDO



REGRESSANDO



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como se levantaria pela manhã, o homem
sem o deslembrar, a noite que desfaz o rastro?
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"elogio do esquecimento" - fragmento -
bertold brecht



Oscilando
da metade alerta
à meia sonolência,
magra idéia
sobre ser,
deslembrar,
benção, quão
limitação, por
desconhecimento.
Alivia, quiça
expurgando
ou amortecendo ou
pondo vendas,
sendo quando some tudo,
não se enxerga,
sendo escuro e ignora-se.


Considerando-se o quanto
sobra do início à
tenra idade,
com significado
tem-se escassas, umas cenas
agarradas a
sentimentos, e
menos que a dezena,
é a soma dos nomes
com semblante,
defendidos
por recordações esparças,
não datadas,
inexatas.


A menoridade que,
nem impressões, nem palavras,
ostenta em volumosa quantia,
pode rir
pouco após, a raiva,
desaguá-la em grossa lágrima,
a igual passo em que pode,
a puerícia,
quase não saber
nada do como agem
e dizem, mãe e pai;
dos dois, só
reter-lhes o olhar.
De semelhante processo,
que olvida mais que retrata, a
meninice, porquanto
pertença, também
ainda pode
apenas fazer mágica. Basta
uma piscada e
casos,
ditos e atos
factuais, uma vez
perfectivos, vez em vez,
destes acabados,
tantos, um
que se cria
os deixa, consumando,
apagarem-se.



À isto,
algum dia,
viajam
quem insone
e quem nunca esquece,
para si dentro dos começos,
de regresso.


*

Santana de Parnaíba
agosto 2009
Ney Maria Menezes

* O *
¨¨ * * *¨¨

Foto de Olegito
via poetrycafé.weblog
















ANGELUS

Imagem: "Sleeping angel"
via soulbehavior.com

Angelus



De través à praça,
atravessava a tarde, em vias
do Angelus,
a linha ondulante,
meio presentida,meio enxergada,uma
trilha de fumaça,
partindo do círio
para onde,estreitos,
as listras e olores
do pavil e parafina
de velas abre/caminho
terminam em nada...




Paradas ante a que desaparecia
ondulando,
viam-na,conquanto confusas,as
vistas
dilatadas para um testemunho inútil,
e reconheciam,
a despeito de querer nem ter notado,
o precioso
que, perdido, ia-se ao inacessível,
àquela altura em qual perdia-se
a presença
da alegria transbordando entre abraços.
Ia-se para o impossível ao embaço
de tais vistas
em frente a vidros molhados,
restringidas
a um campo estendido entre palmos pueris,
contados, alguns
poucos.





Através da melancolia
de mais outro sol morrer no ocaso ,
arrastavam-se
por largo,por viela,
automáticos,
os olhares congelados;
o olho
sabedor do fim em qual não crê,
- jamais pode -
um palor,o trespassando,
preenchia a cavidade
vaga,
seca por terem dela
se ausentado, lágrima
ou vontade,
mesmo a mínima
gota.



Transposta,a última via;
sobre a maca,
uma alvíssima
soma/de/cores desapercebidas, ali
na urna, esta
clara insígna
do contrário de terreno,
de seu odor, potência e lama,
ali,dormindo,infinita pureza;
pura alma do que nasceu
para cedo
ir-se embora,
falto de alento e
consistência,de morno e
úmido,
de vivas substâncias;
falto de ânimo,
história e herança.
Um passado recém-vindo,
não vingado,
recém- ido,
sem rumores,
de imprevisto,
prematuro
e já esboço murcho,
desbotado, sem florada,
trasitório
fluxo
para onde acaba, esgarça,
a fumaça d' uma despedida.




O vale,algo o
percorreu,acabrunhante,
aparentando a paixão
de uma resistência inglória,
o silêncio do não suposto antes; em
curso,a desolação,
o duro engolir do além do suportável
confrangendo as ruas,
cortando a garganta atrás do lenço,
logo após o círio-guia.



Em cortejo,
a desconcertante concretude.
Levado em branco berço,o
bebê lívido,
nascido anjo.




*

Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba, 2009




a






LABIRÍNTO

museu Guggenheim
foto de Dmitri Kessel




Houve um moço, Dandala,
só que veiu-me este fado
nas horas em que mais não pude,
por ele, esperar.


O moço, Dandala, o vi,
só que pouco, conquanto
no todo,
o vi; primeiro, de relance,
pela volta do dia,
um dos votivos,
desses enfeitados por conta
das festas
ao Deus-Menino.


Sem que esperasse
o vislumbrei
- se diria, foi relâmpago -
nítido porém, soube,
chegou.
O mui benigno,
o reconheci pela mão,
a rosa clara estando nela,
e, por se lhe engastar
ao peito um raio azul,
aquele augúrio
que fez cinco anos,
o que a mim
soara, em verdade, equívoco,
ali mesmo,
qual vaticíneo mostrou-se.
Previsto, e no entanto
surpresa,
encontrou-me.


Enquanto em seus olhos estive
um ciclo de festas e rezas,
em meus sonhos esteve. Estes,
jamais ele os deixou.
Só que
- contratadas desde antes - fora-nos
marcada
e empenhada, data e
palavra,
a horas já mui atrás.


Houve um sonho, Dandala,
só que, pra fora do desígno, ao seu avesso,
em vivo, não vingou.


Idas e vindas, quantas somam
as tantas que tem desenhado,
ainda, o tamanho do meu caminho.
À mão livre, caminha meu desenho
por mal - traçadas linhas.
Comum. O tropeçar nos traços é
bem o que há de mais normal.


Feito teatro mambembe
com violeiro e
atriz, feito isto,
a vida fosse
palco de um show
e o itinerante
artista
ora de mudança, ora um
tempo, morador, daí
num repente, o avião,
nova estadia
e logo a estrada interurbana,
a volta,
vindo o outro pela costa,
a vicinal,
para o campo se indo um,
paralelas, uma e outra.
Foi neste passo
que o viver se encenou.


Deste jeito andarilho,
milhas e terras, um
sem prazo definido, o outro,
águas e jeiras
sem pouso fixo,
e no salão,
em desafino de
sopros e teclas,
dançar sozinho
nos foi sempre a única certeza...


Houve um noivo, Dandala,
só que um, o outro não mais o achou.
Andantes = distantes. Foi como foi.


O que foi, Lauredana,
se assim ou assim é que não foi...
quiça até possa,
tenha, o inverso,
acontecido,
ou seja,
visto que, do outro,
não houve quando, à face,
retornar, um

foi e fez

a via que lhe coube; veiu o outro e
refez mais uma e muitas,
só que, encruzilhada
ou entroncamento
onde, consigo, um
reatar,
nunca se deu
à circunstância.
Teria a ver, o
contrário mal-sucesso, com
caixas e malas
sem número,
local
além do cálculo.


*

Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba, 2008





Gare de St Lazare

via sítio da-vinci-code-paris.com
















































































quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

EXATO...

°-^-^-^-°
Pintura de Edward Hopper "New York movie"
via sítio ibiblio.org




PARA MAYRA








...NESTE MOMENTO
[ INTROITO, ENUNCIANTE DO INAUTÊNTICO EM
TEMPO DE IMPOSSIBILIDADE]
NESTE EXATO MOMENTO
ESTOU PERDIDA; ENTÃO INSISTO

OU RECONHEÇO, POR ALGUMA(S)
MANEIRAS DIFERENTES ENTRE SI,
FUNDA(S), INDETERMINADA (S), NÃO TENHO
APAREÇIDO À QUEM SOU E SEI,
VIVO(IA) , CONHEÇO(IA), LEMBRO(AVA);
E, DAS MANEIRAS,
VEM SENDO A ÓBVIA: NÃO ENCONTRO
MINHAS(?) PRÓPRIAS(?) PALAVRAS.

COMO SE FAZER EXPLICAR,
SE A FALA NÃO ACODE
E EMPURRA PARA DENTRO
TANTO QUANTO, IMPOTENTE, NÃO SOUBE
NUNCA COLOCAR-ME LÁ FORA . E
COMO DIZER O NÃO SABER?
FALAR
DA COVA,
DO INABITADO,
DA FALTA, DO AMPUTADO...


O AUSENTE,
O INÓSPITO,
OS PERECIDOS,
FALAR DELES,
DO MELANCÓLICO,
DO ENCRUADO,
E ABORTADOS, CONQUANTO
SEM CORPO,
FATO HISTÓRICO OU
PONTO GEOGRÁFICO,
DISTO, O PASSADO E
O JAMAIS SIDO, O NEM VINDO...
...DA VAGA, IMPRECISA
AINDA QUE RENITENTE,
FALAR TEM NEXO
E NOME,
SABOR,
SUBSTÂNCIA?



*

Ney Maria Menezes
SÃO PAULO, DEZEMBRO 2005
































































































terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PRESENÇA

cartaz do filme "The strangers"
editado em p&b - via sítio anica.com.br






Assimétrico
eras tu, o quebra luz
- um recorte oblíquo na paisagem -
e nem mesmo já cantara
a curruíra
para as portas se fecharem
e serem, voejos de sonhos,
como acenos ao intangível.
Ainda assim
no fluxo respiratório
fez-se um corte, calou-se
o vento, e um louva-deus
perdeu o bote.
atordoante.

Alterou
baço instante sem encantos,
um adágio,
e, da cela, a ferragem,
tornou translúcida
no gradeado,
entretanto,
pelos arredores,
os que além mais havia, nada
os transfigurou.

As horas, uma a uma,
tombaram mortas, estéries
fracassadas.
Pesaroso.


Divisória
eras tu, a coluna umbria
sobre o solo, afixada
à orla do verdor nas ervas
ao final
do chumbo nos pedregulhos;
fronteriços, eles, um
para o outro mantinhas
não alcançável, enquanto à ambos
entreposto
te continham, em conflito, apresado.

Pelo tempo reservado
ao olvídio, as águas
passaram sem rumores, todavia,
perturbadas.

Dissonância
eras tu, brusco intervalo
fracionando a escala jônica
- um recorte em viés na sonoridade -
ferindo sete tardes
e a memória.



*


Ney Maria Menezes
2007, São Paulo



colagem de
° "Underground" foto de Lubomir Arabadjiev [detalhe]
e
° imagem pessoal
Uso não comercial
Os direitos são do autor do original