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Foto de
Eric Kellerman
DO AMOR
XVI
XVI
se te aproximares de silves, a bem-amada,
destapa os olhos e cresce na promessa
do mar. atrás de ti, a planura é apenas um
ajuntamento de almas não se ouvem as
vozes, mas eu sei que a ausência é um
sentimento forte, ainda que seja verão
e o campo cresça ao raiar da vindima
não cantes a vontade que te faz pertencer
ao passado o país não se inventa nos
teus gestos nem nos meus nem nos poemas
que porventura escreveres em memória
silenciosa.
abraça apenas a bem-amada silves e ouve
a procissão a passar. destapa os olhos
e repara que da cidade antiga só resta
o castelo e a cisterna as ruas de pedra
e o célebre poema de al'mutamid.
as pessoas, elas passam como passa a água
do arade, sem um destino certo.
o resto da cidade só é teu quando te
abandonares e te esqueceres que existem
casas e que a cisterna fica cá em baixo,
sob a alçada do tempo já descoberto.
só assim o mar te será prometido
Jorge Vicente
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poema lido no grupo
amantesdasleituras-Yahoo