sábado, 10 de março de 2012

FACE, NÃO FATOS

*Imagem de Jarek Kubicki




Na fotografia
não identificada
só reconheci
o rosto e seu riso
na boca. A moça,
olhei  sem ter conta
de quantas olhadas,
ora bem de perto,
ora me inclinava,
mas nada mais saiu
lá de trás das sombras.
Enquanto negava-se
a palavra a vir
e ver-me,
sentia-me pisando
uma areia traiçoeira.
Eu, que escrevo
com lembranças,
via que perdida estava
para a escuridão
desse lapso
a recordação que descia
por ladeira abaixo
c’o nome do rosto,
os feitos da moça,
e junto também
se ia
um novo pedaço
daquilo que
me supunha ser.
*


Santana de Parnaíba
8 de março de 2012
NeyMaria Menezes

TARDE PARA ROMANCE

Imagem de Kaunau no 
darkview.deviantart,com




TARDE PARA ROMANCE

A chuva de fim de outono,
do mesmo modo que acalma
 seu pedaço do mundo
ao não sair Ana para o mercado,
nem ela, nem o ambulante
com barraca nas calçadas,
ao não piar o pássaro,
nem rir alto um grupo
de alunos despido
de agasalho,
 essa calma,
do mesmo modo que a chuva,
ao finar-se a tarde
esfria aquilo que ferve e
faz barulho
ou borbulha.
E termina mais um dia
sob a telha
em que a água, constante,
não espirra com ruído.
Não que seja triste,
melancólico somente.
Em silêncio,
onde a calma, permanente,
não arrepia a epiderme,
sob a telha
mais um romance termina.
Não que fique sempre
tudo triste...melancólico
talvez seja.
*

Santana de Parnaíba
24/02012
NeyMaria Menezes