Viestes; eram tardias aquelas horas. Chegaram antes à minha janela,
os pombos, postaram-se à gelosia
do mesmo sonho, nem tinhas descido
ainda a montanha, quando - mensageiros -
cada qual em tom mais brando, cantaram
notas, as melodias novidadeiras:
Eis que há de vir, eis que nos virá.
É a mão que atravessou o ermo no dorso
da tempestade, segura nas rédeas
e nas trovoadas, a que nos trará
o sal pra terra, hino pras auroras
o capítulo final da estória
o tapete pra voar; também trará
os frêmitos do que não deve ser
deixado ao relento, todos guardados
ali dentro, no cofre de cristal.
E nesse berço é donde teu nome
luminoso e d'esmeralda, encontra-se
por zelar de um pequenino rebanho
de fragmentos, sendo-lhe o seu pastor:
d'uma pluma
a que galga a coluna vertebral
d'uma flor
bem alva, a que viceja ao luar
d'uma linha
em zig-zag, de passadas pela praia
da leveza perfumada do amor.
NeyMaria Menezes
SãoPaulo, setembro de 2006
IMAGEM:
"Dama da noite"
de Gilberto SantaRosa
no flickr.com/photos/santarosa/sets/422324