sábado, 26 de novembro de 2011

HOJE NÃO, MAS SIM

*
Imagem:
foto de Oleg Duryagin

*


O tédio é
a cela que em pé
a pôs o mesmo, o mesmo
olhar fixo
no ponto em que o agora
pousa quieto e cai
rápido
 imobilizado
no porão do eterno.
 
Se visto desse ângulo
o que há
é um (d)efeito de ótica,
um delírio
que joga a catinga
em cima da relva
ao redor d'olho d'água e
abafa os rumores
e as bolhas em rodopios
pelo centro da cisterna.
 
Sendo assim,
nesse panorama mudo 
como oculto
de uma chaga gangrenada,
ao tão surdo
como cego
pela cascarra ilusória,
não que não
doa de fato,
mas por isso
urge o suor, o cuspe, 
o vômito, o tremor
convulsivo
ou o corte cirúrgico,
tudo para, 
o cianótico por asfixia,
 portão a fora
colocá-lo e, em seguida,
 imolar em rito purgatório.
 
Hoje não,
 mas sim logo mais,
então ir-se
para a sombra
da primeira infância
e a partir daí, dela
 emprestada, só viver
com essa memória
de efêmeros flashes
até que
ceda a febre,
colha flores,
até o pôr de pé
reencontro com o mito
 fundador.
**
Santana de Parnaíba
novembro2011
Ney Maria Menezes

 

domingo, 20 de novembro de 2011

PONTA À PONTA

*

*

Sobe o mar,
sobe se indo longe
 ao ponto de até
no céu entrar.
Dorme o barco
na ponta de lá.
 
*
Santana de Parnaíba
novembro2011
NeyMaria Menezes
*

CONTAR COMO PASSA O TEMPO

*

*


CONTAR COMO PASSA O TEMPO
 
As horas, como se sabe,
elas correm;
desde que penumbre
entre o chão
e o telhado,
por volta das seis da tarde
elas correm pelo dentro
do negrume afim de oferecerem
 à madrugada um começo;
daí depois,
quietas, deixam
ao galo o cantar a cada 
 sessenta passos do tempo,
até que tome cores a aurora;
então, ele, dono do alto galho,
desce e deixa
para o sino
proclamar, ao sexto toque,
um dia novo.
 
**
Santana de Parnaíba
novembro 2011
NeyMaria Menezes
*