terça-feira, 10 de outubro de 2006

AINDA...






Ainda que nada
se faça pronunciado
como se longas
mãos
cálidas
pendessem
desmaiadas
pelas pontas
nas fronteiras
dos punhos do silêncio,
abelhas frias
ferroteiam
arrepios
sob a lã
à beira
de rubra lenha.

>*<

Na conjuntura
em que lua nova
e a derradeira
terça de junho
se olham,
despedem-se
do canteiro
a última folha
do tinhorão
machetada
de vermelho
os casais
de andorinhas
os aguaçeiros
o gasto ancinho
e um regador
de jorrar sonhos;
mesmo que ainda um
roer
se repita
no fundo
do plexo-solar
lá, no oco
da barriga
velha fisgada
se arda, monótona
tal fosse
vigente
um verão
nos trópicos.

>*<

Enferrujam-se
no tom cobre-rangente
do desuso
os gonzos do portão;
embora sempre ilumine
branqueie o degrau
desvende curva
e rachadura,
a luz acesa
ainda, aquela
no alto, na aléia
e sobre o mato
cobrindo o chão.


>*<

IMAGEM:
Foto de Dirk Vermeirre




LEMBRA DE MIM ¨¨¨¨ Letra: Vitor Martins ¨ Música: Ivan Lins ¨ Cantam: Nana e Dori Caymmi



"A vida não é o que foi,
mas o que lembramos dela".
Gabriel Garcia Marquez

>*<

LEMBRA DE MIM

Lembra de mim

dos beijos que escrevi no muro

a giz

os mais bonitos continuam

por lá

documentando que alguém

foi feliz.

>*<

Lembra de mim

nós dois na rua provocando os casais

amando mais do que o amor é capaz

perto daqui, ah! tempos atrás

>*<

Lembra de mim

a gente sempre se casava ao luar

depois jogava os nossos corpos no mar

tão naufragados e exaustos de amar.

>*<

Lembra de mim

Se existe um pouco de prazer em sofrer

querer te ver talvez eu fosse capaz

perto daqui, ou tarde demais

>*<

Lembra de mim...

IMAGEM:

"Open prision"

foto de Dirk Vermeirre

no sítio pbase.com

domingo, 8 de outubro de 2006

Memórias de um jardim...


"The Snake Charmer"
de Henri Rousseau




Fada Lua
adornada
renda, gaze e cetim
faz de conta...
>*<
Sejam pérolas
cada flor e toda pétala
em botão
ou já aberta
da eugênia, ninféia, lantana...
Lua desenha
asas de anjo
querubins
infinitas liras poéticas
miúdos círios de promessa
no telheiro
na lembrança
na murada...
E veste um manto espelhado
com vidrilhos recoberto
na lagoa
na tristeza
no cimento...
Finda a tarde à sexta hora
na fosca solenidade
desse instante
flecha o assombro:
se alteia e assopra
acendendo, de repente
- feito letras num bilhete -
pirilâmpos
céus abaixo
sobre a terra
e, também, dentro dos olhos.
>*<
Deixamos que fosse assim.
>*<
Enganamo-nos.
Qual senha era, para quando
como e donde o ponto
em equívoco, reuniram-se.
Em meio às sombras das ramagens
sob lanternas delicadas
dormimos - desencontramo-nos -
em desconhecidos cantos
ocultos no coração
d'um jardim, belo e improvável.
NeyMaria Menezes
outono de 2006