Serenissima 2007, originally uploaded by Harimba.
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AUTORETRATO,
PÉS E MENTE
EM TRÊS POR QUATRO
I
Calço sandálias,
de preferência
dia e noite,
um par tamanho
trinta e quatro e
nada de saltos;
em ordem do antes
para mais tarde,
filosofia
li em seguida à
literatura,
pluritemáticas
pós_fase dos
contos de fada;
escorreguei
do encantamento
ao espelho que olha
pelo contrário,
como se fossem,
coisas e gentes,
criações de sua arte,
e caí em perguntas
que lutam com
o despertar
em grande angústia
por ignorar
onde se vai,
se veiu ou quém se é.
Disto e daquilo,
provei-os , no áspero
e no macio,
provei-me viva.
Fim do último ato,
mas, no relógio,
como os ponteiros,
o tempo roda,
logo, dormir,
indelicado
seria, por ora,
daí, a que as vistas
fiquem atentas,
retorno ao início
e a elas escrevo
fantasias e
reminiscências,
cantos, estórias;
imaginárias,
até as que avivam
caras lembranças,
elas, as letras,
fazem vigília
junto comigo,
enquanto ao amigo,
faço-lhe sala.
Esclarecendo,
à contra-luz
desta vidraça
sempre me digo
- saiba e repita:
II
não, rapsodo
não me chamo,
nem artista
tenho o título,
e ainda menos
solicito
- tratem-me
por bardo ou
então, poeta.
Do fazer
não se diz
pai, e o verso,
mãe, nem tem,
tem metáfora.
SER, para isto,
mesmo mágica,
qualquer fala,
só, não basta.
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São Paulo, 2006
NeyMaria Menezes