sábado, 30 de janeiro de 2010

ANGELUS

Imagem: "Sleeping angel"
via soulbehavior.com

Angelus



De través à praça,
atravessava a tarde, em vias
do Angelus,
a linha ondulante,
meio presentida,meio enxergada,uma
trilha de fumaça,
partindo do círio
para onde,estreitos,
as listras e olores
do pavil e parafina
de velas abre/caminho
terminam em nada...




Paradas ante a que desaparecia
ondulando,
viam-na,conquanto confusas,as
vistas
dilatadas para um testemunho inútil,
e reconheciam,
a despeito de querer nem ter notado,
o precioso
que, perdido, ia-se ao inacessível,
àquela altura em qual perdia-se
a presença
da alegria transbordando entre abraços.
Ia-se para o impossível ao embaço
de tais vistas
em frente a vidros molhados,
restringidas
a um campo estendido entre palmos pueris,
contados, alguns
poucos.





Através da melancolia
de mais outro sol morrer no ocaso ,
arrastavam-se
por largo,por viela,
automáticos,
os olhares congelados;
o olho
sabedor do fim em qual não crê,
- jamais pode -
um palor,o trespassando,
preenchia a cavidade
vaga,
seca por terem dela
se ausentado, lágrima
ou vontade,
mesmo a mínima
gota.



Transposta,a última via;
sobre a maca,
uma alvíssima
soma/de/cores desapercebidas, ali
na urna, esta
clara insígna
do contrário de terreno,
de seu odor, potência e lama,
ali,dormindo,infinita pureza;
pura alma do que nasceu
para cedo
ir-se embora,
falto de alento e
consistência,de morno e
úmido,
de vivas substâncias;
falto de ânimo,
história e herança.
Um passado recém-vindo,
não vingado,
recém- ido,
sem rumores,
de imprevisto,
prematuro
e já esboço murcho,
desbotado, sem florada,
trasitório
fluxo
para onde acaba, esgarça,
a fumaça d' uma despedida.




O vale,algo o
percorreu,acabrunhante,
aparentando a paixão
de uma resistência inglória,
o silêncio do não suposto antes; em
curso,a desolação,
o duro engolir do além do suportável
confrangendo as ruas,
cortando a garganta atrás do lenço,
logo após o círio-guia.



Em cortejo,
a desconcertante concretude.
Levado em branco berço,o
bebê lívido,
nascido anjo.




*

Ney Maria Menezes
Santana de Parnaíba, 2009




a






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