quarta-feira, 7 de setembro de 2016


foto de Kiyoshi Koshikawa
Golpeada mátria minha
Amanheceu assim,
setembro, ao sétimo 
de seus dias,
com pouco branco,
algum azul e,
o verde, bem pálido
entre opaco
amarelo.
Ameaçado, amanheceu
assim, a alegria
desaparecida


Bucaneiros e
tantas águias
vindas à costa e,
no meio da terra, os ratos,
os apátridas.
O solo sagrado,
a rica água,
a carne do frágil
ameaçados.
Desbrilha a festa, a nossa
data.


Cães domesticados,
lambe-botas
d'além piratas,
canalhas, canalhas!
Amaldiçoados
são seus nomes,
párias!

Ah, mesmo sem arma
e, miúdo, o dinheiro,
quem, filho, amante é da mãe
gentil, dedo em riste,
dessa traição, não lhe deixará,
esquecido, se omitir;
com brado alto, não lhe permitirá
esconder seu preço
de vilão!


Ney Maria Menezes
7 de setembro de 2016

domingo, 4 de setembro de 2016




CHOVE

Conta-se isso quando ausentes
tem-se os olhos
desse ou dessa a quem se amostra
as palavras

Lava-se a densa copa e
a intrusiva relva ao fim
da árvore
na mesma hora

Limpa-se a rios o telheiro
o arruado
e, no corpo do cachorro
posto porta a fora, ruça crosta,
a igual tempo

Lima-se, pelo pescoço
alçada ao vento, essa alma
e, também, pedaço por pedaço,
esse sonho estilhaçado

Em quente abrigo
aguarda, unha e dente, a raiva,
uma que, por funda injúria, desata o ato;
à frio, remarca o rumo, retraça
quais são os passos

O esgoto tão a lá da borda,
boia acima a escória; pós procela
é nave agora a força da ruína.
No lodo o mais fraco afoga-se...

Lima-se. Limpa-se. Lava-se
o detrito, o podre, o fétido,
sem descanso.

Ser assim como a rija água
em peleja com a pedra cega.
Persistir e rebrotar.

Nem cabe aqui alguma
escolha, visto que largar-se
é não, mais outra vez, reviver.

Ney Maria Menezes
31 de agosto de 2016



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

                                           imagem via www.facebook.com/YehudaEdriCollection?fref=ts


A tarde,
ela, é esse murmúrio 
do horizonte 
pedindo
para ir dormir
atrás do monte...

Ney Maria Menezes 
Santana de Parnaíba/2013

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CLARO/ESCURO


Imagem: David Hamilton




CLARO ESCURO
 
Define um halo
sedoso
a vela
no arco da noite;
com doce suavidade,
lumina as trevas
a carne
no meio do cômodo;
no corpo moço
recuam ao púbis
as sombras nuas.
A escuridão é macia.
 
*
Santana de Parnaíba
outubro 2012
Ney Maria Menezes
 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

DESEMBRENHAR



*
Foto de Sol Casal

*


DESEMBRENHAR
Para que comece,
o chamo. Nomeio
com o primeiro vocábulo
 que aparece-me
parecendo-se com ele;
faísca o invocado e
guia o peneirar do que, no é,
não deve estar.
Começo; ainda nem tenho 
 por certo aquilo que penso,
mas eu salto
para o nome, o suposto,
 e ponho-me em risco
pensa pelo fio 
tensionado polo a polo,
da ponta do meu faro até
a cara por detrás desse aposto,
e movo-me de rastos
se pressentir
 que lho surpreendo.
Preparo
a subida do pano
sem pressa.
Preparo
os limites do corpo
a cada um dos lampejos.
Preparo-me.
É o parto e,
então, algo 
que eu disser,
poderá me surpreender.
**

quinta-feira, 3 de maio de 2012


*
Imagem: de Joanna Chrobak



CIRCUNAVEGAR-SE
 
 
Lá atrás, o tempo.
Para que passes,
um chão te fazem
 os antepassados;
 
assim, a vida,
o conhecido,
os reinventarás
em teu caminho.
 
Devendo tu outras
voltas á terra,
tens, ao velâmem,
de traçar rotas.
 
Presta-te o véu;
precisa, tem
que dizer-te
 a direção do vento.
 
Lá atrás, a voz;
um tino avoengo
que te reveste
e dá destino: ir,
 
em frente ir, até que
por fim te surja,
qual mesmo
lugar de sempre,
um cais.
 
Aí onde lá fora,
a ti, não mais
seja surpresa,
das velas rotas
desembarcar.
 
 Ao osso o repouso,
 ao tempo um termo;
apeia-te aqui,
é hora.
 
*
 
Santana de Parnaíba
novembro 2011
NeyMaria Menezes
*

quarta-feira, 2 de maio de 2012


*Imagem de Van Gohg (fragmento)



*
DESVALIA
Bem lá em cima,
o silêncio da montanha,
o espanta uma ventania;
nada
o livra dos gritos
de galhos órfãos de caule,
dos gemidos
de ninhos por queda bruta,
e nem o guarda ante
o capim que zune
ao corte da lufa.
*
Santana de Parnaíba
outubro2011
NeyMaria Menezes

terça-feira, 1 de maio de 2012



*
Cacilda Becker em cena de "A dama das Camélias"
foto de Fredi Kleemann via www.imaginariopoetico.com.br




* 
 
CONTAR COMO PASSA O TEMPO
 
 
 
As horas, como se sabe,
elas correm;
desde que penumbre,
entre o chão
e o telhado,
por volta das seis da tarde,
elas correm
pelo dentro do negrume
afim de oferecer
 à madrugada um começo;
daí, então,
lerdas quanto quietas,
deixam ao galo o cantar,
a cada remate 
de sessenta passos 
do tempo, até 
que tome cores a aurora;
daí depois, ele,
dono do alto galho,
desce e deixa
que proclame o sino,
ao seu toque sexto,
um dia novo.
 
**
 
 
Santana de Parnaíba
novembro 2011
NeyMaria Menezes
*