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Imagem:
foto de Oleg Duryagin
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O tédio é
a cela que em pé
a pôs o mesmo, o mesmo
olhar fixo
no ponto em que o agora
pousa quieto e cai
rápido
imobilizado
no porão do eterno.
Se visto desse ângulo
o que há
é um (d)efeito de ótica,
um delírio
que joga a catinga
em cima da relva
ao redor d'olho d'água e
abafa os rumores
e as bolhas em rodopios
pelo centro da cisterna.
Sendo assim,
nesse panorama mudo
como oculto
de uma chaga gangrenada,
ao tão surdo
como cego
pela cascarra ilusória,
não que não
doa de fato,
mas por isso
urge o suor, o cuspe,
o vômito, o tremor
convulsivo
ou o corte cirúrgico,
tudo para,
o cianótico por asfixia,
portão a fora
colocá-lo e, em seguida,
imolar em rito purgatório.
Hoje não,
mas sim logo mais,
então ir-se
para a sombra
da primeira infância
e a partir daí, dela
emprestada, só viver
com essa memória
de efêmeros flashes
até que
ceda a febre,
colha flores,
até o pôr de pé
o reencontro com o mito
fundador.
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Santana de Parnaíba
novembro2011
Ney Maria Menezes