domingo, 16 de julho de 2006

A borboleta e a pedra; as visitantes




A borboleta e a pedra;
as visitantes



Vêm assim
pela orla
pelas cercanias da jornada.

Na abertura da luz
a que faz rendas
pondo sombras de samambaia
sobre a brancura do reboco
e pingos de ouro
nos bordos das cabeças,
ao tempo em que descobre
os montes, tirando-lhes o capuz.
Nela
é que me chega:
trazendo novos seus trajes de menina
tilintos nas pulseiras
um colorido no rosto
frescor no sorriso. É tão benvinda.

E alvas aromáticas
coroam as hastes da dracena.
Esta é a fronteira matutina, as primícias do dia.
Uma água de cheiro, adocicada,
arrodeia a dama sua, das pétalas à corola;
alvíssima.
E é a franja noturna, esta que inicia a ronda da lua.

Quando, tímida, lume a alvura
a que torna serena
a melancolia da Vênus/estrela
e abriga, em quietude, pássaros
e pipilos;
à lucilente, nela, a companheira
- vêmo-nos sempre -
vestida de recolhimento
tranqüila e sem adornos, num mover macio
achega-se; dá-me seu braço
a conhecida minha. Leva-me até ao sítio
do silêncio.

Ouço-as, ambas as cantigas, essas visitas.
Só da voz, deixam prova fugidia,
e esforço-me.
Tento revê-las
em contornos
na beleza das formas
reter delas
o instante, matizes todos
dessa fulgurância melódica e efêmera.
Tento loucas metamorfoses.
Moldá-las nas fôrmas das letras
tatuá-las na memória
assentar a clara formosura,
d'uma branca borboleta pousada sobre pedra,
em meio à paisagem crua.


NeyMaria Menezes
2006

Imagem: "Papillon"
de Ji Krabouille,
no jikrabouille.info/blog





















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